Recebemos o relato de Parto da Re, ela já publicou ele nas suas redes sociais e nossa ideia aqui é que ele possa chegar a outras mães e assim ajudá-las a superar se o seu parto também foi diferente do sonhado.
Ela se preparou de todas as formas possíveis e conta nesse relato como foi difícil aceitar a cesária, extremamente necessária no seu caso. Conta em detalhes incríveis todo seu trabalho de parto e os motivos que fizeram a equipe médica tomar a decisão pela cesária. Ela fala um pouco também de como foi a chegada da pequena Giovanna e como tudo faz sentido naquele momento.
"Após duas noites de pródromos arrastados e doloridos (contrações) perdi o tampão na manhã do dia 07/09/18. Na madrugada do dia 8 acordei a 1h da manhã com contrações, que foram ficando cada vez mais rítmicas.
Ás 3h da manhã ficaram mais fortes e dolorosas, acordei o Rô e ele falou pra eu ir pra banheira, aliviou um pouco, mas quando saí as dores pioraram e as 5:20 elas já vinham a cada 3 minutos com intensidade muito alta e acompanhadas de uma dor lombar muito grande!
Nesse momento avisamos toda a equipe e a minha doula Cacau Prado (um anjo na minha vida) veio imediatamente pra minha casa e não saiu mais do meu lado até a Giovanna nascer. Ela chegou ás 7h, eu estava com apenas 1cm de dilatação, com dor, debaixo do chuveiro abraçada com a bola.
Resolvemos seguir em casa e esperar entrarmos na fase ativa antes de irmos para o hospital. Ela colocou o tens na minha lombar, fazia massagem a cada contração, utilizou aromaterapia para diferentes situações e me colocou pra dormir um pouco.
Não consegui, as contrações eram tão intensas que eu não conseguia relaxar. Levantei e fui pra bola fazer exercícios. Nessa hora minha enfermeira obstetriz Julia chegou (mais um anjo). Ela fez massagem e me examinou, eu estava com apenas 1cm e meio de dilatação e ela propôs que eu tentasse realmente descansar. Eu estava desde o dia 4 sem dormir direito. Não consegui novamente!
Cacau sugeriu tentar descansar na banheira para eu tentar relaxar, mas eu não tinha descanso entre as contrações.
O Rô e a Cacau permaneceram ao meu lado, ela colocou óleos essenciais na água e os dois faziam massagens a cada contração.
Eu não encontrava posição na banheira e percebia que as contrações vinham cada vez mais intensas. Lembro de nessa hora repetir algumas vezes que não sabia se aguentaria se piorassem muito mais.
O Rô e a Cacau me deram força, me empoderaram, me fizeram acreditar que eu aguentava sim e eu aguentei!
Saí da banheira, fui pra bola novamente, as dores cada vez piores.
A Talyta entrou no banheiro trazendo comida. Precisava me alimentar. Dei um gole no suco e uma mordida no misto, não consegui engolir, veio outra contração e vomitei.
Deitei no chão, estava com muita dor! O Rô decidiu me examinar, estava com 4 centímetros, colo bem fino e contrações seguidas. Nessa hora ele decidiu: vamos para o hospital!!
Tomei um banho. Começamos a pegar tudo que esquecemos de separar, o Rô fez a mala dele em 2 minutos. A Cacau e a Talyta pentearam meu cabelo e me ajudaram a me maquiar. Me despedi das cachorras e fomos pro hospital.
Foram 12 minutos, longos 12 minutos, na primeira contração eu pulei pro banco de trás, ajoelhei no banco e agarrei o encosto. E assim foi até chegarmos no hospital.
O Dr. Gustavo Ventura já estava me esperando na porta com uma cadeira de rodas, já tinha dado entrada no hospital para adiantar tudo e me levou direto para o delivery (sala de parto normal).
O Rô foi estacionar e se trocar, pouco tempo depois entrou no delivery. Nos abraçamos. Um abraço de amor, cumplicidade e compaixão. E dentro dele muitas contrações. Apertava a roupa dele com força... sorte dele que era só a roupa.
Como no delivery e pra minha equipe, a mulher é a protagonista do seu parto e pode fazer o que quiser, decidi ir para a banheira. Estava bem quentinha, o Rô e a Cacau me fizeram companhia, massagens, jogavam água na minha lombar. A Julia chegou e também ficou comigo sempre monitorando os batimentos da Giovanna...acho que foi o momento que consegui administrar melhor as contrações e isso me fortaleceu pra seguir em frente com o trabalho de parto.
Quando saí da banheira e fui avaliada continuava com 4 centímetros. A Cacau e a Julia sugeriram exercícios para ajudar a Giovanna a girar o dorso dela pra esquerda (pois estava a direita), melhor posição para o parto normal. E depois de muitos agachamentos, exercícios, spinning babies e acupuntura, ela finalmente virou, porém a dilatação se manteve. Após 6h sem nenhuma evolução na dilação rompemos a bolsa. Continuei com os exercícios para ajudar na descida da Giovanna (bola, degrau, agachamentos, mobilizações pélvicas, banheira de novo...), mais duas horas passaram e a dilatação só chegou nos 5cm...
Como eu já estava exausta o Dr. Gustavo sugeriu que eu recebesse analgesia pois me ajudaria a descansar um pouco e poderia ajudar na dilatação do colo. Eu que já tinha me convencido de não receber analgesia e estava suportando bem as dores me surpreendi e falei: “Dr. achei que eu iria implorar pela analgesia e você que tentaria me convencer de não tomar...rs”
Mas, como tudo nessa vida, existem situações que fogem da regra e no meu caso (após 17h de Trabalho de Parto) ela era indicada para ajudar na progressão do trabalho de parto.
Minha anestesista querida Giovanna chegou após uns 15 minutos. Sentei na maca, ainda meio insegura de saber que eu poderia perder o movimento das pernas por um tempo. A Gi fez uma analgesia bem leve para tirar a dor da contração, mas ao mesmo tempo não me deixar sem poder andar ou ficar em pé. Consegui adormecer por uns 30 minutos pois as contrações vinham sem dor. Quando acordei estava renovada, pronta pra reiniciar o trabalho de parto por quantas horas fossem necessárias. Fui pra banqueta, comi, retoquei a maquiagem e recebi ocitocina na veia. Novamente fui examinada e a conduta tinha sido um sucesso. Evoluímos para 7cm e um colo bem fininho, porém junto veio outra notícia preocupante, a cabecinha da Giovanna estava rodada para o lado errado impossibilitando que ela continuasse descendo. Levantei da banqueta e fiz vários exercícios sugeridos pela Cacau e pela Julia. Elas tentaram de tudo, foram mais algumas horas fazendo spinning babies, posições e movimentos que poderiam favorecer a rotação da cabecinha dela, consequentemente sua descida e dilatação total. Mas parecia que a Giovanna não queria nascer por ali. Nessa hora notamos uma dip 2 (quando o bebê desacelera fora da contração) paramos por alguns segundos, mas Giovanna se recuperou e seguimos. Lembro de já começarem a me preparar pra aceitar uma cesariana. Mas eu não queria, eu estava bem, a Giovanna estava bem. Escolhi insistir, fazer o que fosse possível. E o Rô me apoiava, eu sabia que se nossa filha estivesse em risco ele não deixaria eu insistir no parto normal. Ela era nossa prioridade.
Continuamos monitorando os batimentos cardíacos da Giovanna com a cardiotocografia.
A Cacau colocou Dirty Dancing, eu e o Rô dançamos juntinhos. Depois veio Bell Marques e outros axés em meio a muitos exercícios. Fui examinada novamente e pra minha tristeza nada mudava!
Resolvemos ir para a banqueta fazer força, geralmente se faz a força quando chega em 10cm de dilatação, mas com o batimento da Gi oscilando, precisávamos ver se assim ela descia mais, dilatava o colo e rodava para ela nascer.
Nesse momento eu já estava sentindo tudo de novo, o efeito da analgesia tinha passado.
Eu tinha que fazer força pra empurrar ela no momento da contração e na terceira ou quarta tentativa ela teve uma bradicardia preocupante, durou quase um minuto, o minuto mais tenso de todo trabalho de parto.
Rapidamente colocaram oxigênio para eu respirar e a oxigenar, e ela assim, recuperou os batimentos graças a Deus!
Era quase meia noite e eu soube que o parto normal já não era mais uma opção. Todos da equipe foram unânimes, não poderíamos continuar. Havíamos feito tudo! E a partir daquele momento estaríamos colocando a Giovanna em risco.
Ela já dava sinais de que estava cansada, tinha poucas reservas e eu permanecia com 7cm, longe de poder nascer de parto normal.
Conversaram comigo e resolveram deixar uma sala pronta, para qualquer emergência, principalmente depois da desaceleração que foi fora de contração.
Eu desabei, chorei.
Não entendia porque não tinha conseguido, me culpava, não sei porque.
O Rô me consolava, dizia que eu havia feito tudo que podia, que estava orgulhoso, mas eu não me conformava, até que ele falou que em breve conheceríamos a Giovanna, que ela estava chegando e então eu percebi que depois de tantas horas esperando, a única certeza que eu tinha era que ela estaria nos meus braços na próxima hora e isso me deu forças pra sorrir e segurar as lágrimas.
A Julia secou meu cabelo (por causa do bisturi elétrico). A Cacau levava música, velas e outras coisas para o centro cirúrgico.
Não me deixaram ir andando para a sala (normas do hospital). Tive que ir de cadeira de rodas.
No caminho o Rô me levou pra ver minha família, foi muito difícil conter as lágrimas nesse momento, mas eu segurei por eles, pela minha mãe.
Meu sobrinho me deu um abraço bem apertado e um beijo. Minha mãe também parecia segurar as lágrimas. Me despedi de todos e fomos pro centro cirúrgico.
Assim que levantei da cadeira mais uma contração... esperamos um intervalo entre elas para eu poder sentar na maca pra a Gi aplicar a anestesia. O Rô veio conversar comigo e avisou que ele iria se paramentar para receber a Giovanna e em seguida viria ficar comigo. Eu consenti. A partir desse momento aconteceu tudo muito rápido. Minhas pernas começaram a formigar, até que o formigamento chegou na altura do meu peito. Uma sensação esquisita. Eu sentia tudo que as enfermeiras faziam, passar a sonda, assepsia da barriga... mas tudo sem dor. Em seguida veio o campo cirúrgico e eu não conseguia ver mais nada do que acontecia lá embaixo... comecei a ficar enjoada e a respirar fundo para segurar a ânsia, senti o cheiro que o bisturi elétrico provoca, fiquei em dúvida se respirava fundo ou não, porque esse cheiro me enjoa... o Rô apareceu paramentado do meu lado. Olhei pra ele e falei: “mas já?” Ele respondeu: “em menos de 5 minutos ela nasce!” Fiquei ansiosa e concentrada pro enjôo passar... de repente abaixaram o campo, a Cacau levantou minha cabeça e eu vi a cena mais linda do mundo: meu marido ajudando nossa princesinha a sair da barriga da mamãe, sem puxá-la, sem pressa, bem lentamente... Em seguida entregou ela pra mim! Que olhar! Ela veio me olhando, me reconhecendo... que emoção! Veio direto pro meu peito e mamou (golden hour) ainda ligada ao cordão umbilical (que só foi campleado após parar de pulsar). Todas as sensações ruins que eu tinha sentido desde o momento que soube que seria uma cesárea desapareceram... eu só tinha olhos e ouvidos pra ela. Fiquei um tempo sem reação, só admirando... o Rô veio do meu lado e ficamos um tempão curtindo nossa princesinha até a cirurgia acabar. Nem vi o tempo passar...
Ela nasceu e eu renasci. Como mulher, como mãe, como esposa... com uma força que nunca imaginei e um amor que não cabe no peito.
Percebi que na sala tinha música, velas, aromas... que ela nasceu em um ambiente tranquilo, respeitoso e acolhedor.
A pediatra mais querida Dra Flavia Mariano estava presente na sala de parto e examinou a Giovanna ainda no meu colo. Apenas 40 minutos depois do nascimento ela saiu do meu colo para ser pesada, nesse momento o papai acompanhou tudo. Cada um chutou um peso diferente e todos erraram feio!rs O peso estimado dela no último ultrassom era por volta de 3,200kg, mas na pesagem oficial foi 3,810kg.
Optei por não levarem ela pro berçário pra tomar banho, queria ficar grudadinha nela... preferi levá-la comigo pro quarto e deixar o banho pra depois, no quarto e junto com o pai.
A Cacau me ajudou a colocar ela pra mamar mais uma vez, ao som de Isadora Canto, que sensação maravilhosa, como Deus é perfeito.
O Dr. Gustavo e a Julia vieram se despedir e me emocionaram com suas palavras.
Assim que fui liberada seguimos para o quarto. O Rô como “motorista” da maca, a Giovanna mamando e a Cacau e a Katia junto. Ao entrar no quarto mais emoção ao rever a família e a alegria de todos ao conhecerem a Giovanna.
Foi lindo, foi especial, foi de Deus!! Sei que não foi como planejado por mim, isso me frustrou muito na hora e demorei alguns dias pra digerir tudo, mas foi como Deus planejou e como a Giovanna escolheu. E não existe alegria maior do que ter ela saudável nos meus braços."
Nem sempre as coisas saem como o planejado, cabe a nós aceitarmos a mudança e ver a beleza nela. Como a Re mesma disse, não existe alegria maior do que ter nosso filho saudável em nossos braços, faz tudo, absolutamente tudo valer a pena.
Parabéns Re pela sua força, sua perseverança e por não se deixar abater diante das mudanças necessárias no seu parto. Sua filha é linda e que bom que ela chegou como tinha que chegar, num ambiente cheio de amor e afeto.
Obrigada por nos deixar compartilhar esse lindo relato.
E você mamãe, tem alguma história que gostaria de compartilhar? nos envie suas superações, elas podem ajudar outras mamães a passarem por momentos parecidos com o seu.
Comments